vale a pena...

Até aos meus 16 anos, vivi de uma forma puramente normal, andava no secundário com intenções de terminar o 12º, no final pretendia seguir para a universidade, tinha amigos, amigas, jogava futebol (era federado), praticava vários desportos, ia muitas vezes ao rio, gostava de dar umas corridas com o meu cão, de tratar dele resumindo tinha sonhos e intenções de ser alguém na vida.
Até que nessa idade, um trágico azar, me aconteceu. Uma moto vinha fora de mão e embateu fortemente contra a minha. Resultado: 2 feridos muito graves e 1 com algumas lesões. De imediato fomos transportados para o hospital de São Teotónio em Viseu. Resumindo, tive 2 meses em coma e uma série de anos em recuperação. No meio disto tudo o que me deu algum alento, foi receber respostas algo “camufladas” de que iria reaver algumas capacidades que perdi (estava num estado algo vegetal).
Nos finais de 2002, quando saí do hospital e comecei a rever os amigos, a ter o meu antigo espaço, a ter contacto com coisas de que eu gostava, a pensar em coisas que tinha feito, a saber de determinadas coisas que se tinham passado, enquanto tinha estado ausente isso deixou-me ainda mais perturbado.
Nesse mesmo ano, fui ainda para o liceu, continuar o 11º. Tive contacto com os amigos, com os colegas, mas ainda estava muito debilitado, na cadeira de rodas e com o tempo ainda muito ocupado (hospitais, terapias, deslocações, …). Tanto na escola, como com os familiares, com determinadas pessoas, aprendi muito, mas o que ouvia, era algo diversificado, vinha de uma forma algo rápida, e isso deixava-me com algum receio em relação ao meu futuro.
Tinha inúmeros problemas, mas não obtinha nenhuma resposta concreta, adaptada a pessoas com as minhas limitações, sobre a lógica de determinados comportamentos que tinha, aquilo que iríamos ter que enfrentar e o porquê de fazer as coisas de determinada maneira.
A maioria da informação que recolhia, podia não ser entendida de imediato, mas eu conseguia registar e reordenar, de maneira a algum tempo depois retirar ilações dessas mesmas informações. Para isso utilizo a minha agenda que funciona, em certo modo como um auxiliar de memória, porque com ela, consigo saber o que fiz, o que faço e o que irei fazer, com precisão e retirar disso um bom desempenho, em relação á vida diária. Outro método, muito utilizado por mim foi a consulta de mapas. Não tem a finalidade unicamente e exclusivamente de me guiar, mas através da sua utilização consigo pronunciar e indicar nomes de terras, saber explicar aos outros como chegar a um determinado local e ao mesmo tempo ter maior conhecimento, porque nunca se sabe o “trabalho” de amanha…
Daqui por 4 ou 5 anos acho que terei capacidades para poder deixar a agenda, mas pelo que me dão a perceber, não sou o único que se esquece das coisas, e se a minha pratica resulta e quase nada me atrapalha, para que retira-la?
O tempo foi-se passando e no final do secundário (2006), andei meio ano em que minhas perspectivas de evoluir em relação a um trabalho ou a uma formação iam decrescendo, pois não encontrava uma alternativa para meu problema, que já pensava de difícil resolução.Até que em 2007 conheci o CRPG, que está a ser um sítio óptimo para mim.
Aí, apercebi-me que a minha vida não era um pesadelo como pensava!
De inicio entrei para o programa de Reabilitação Neuropsicológica (RN), que é uma forma de avaliar as minhas potencialidades, tratar do meu comportamento, e um apoio para enfrentar situações futuras. No RN, obtinha respostas de pessoas que sabiam exactamente lidar com casos deste género. Um exemplo que dá perfeitamente para compreender o que quero transmitir: no dia-a-dia deparamo-nos com situações do tipo, código da estrada, em que discutimos com amigos vários minutos e nunca chegamos a um consenso e a uma afirmação final correcta, acerca daquilo que estamos a debater. Mas se a mesma situação for exposta a um instrutor de uma escola de condução, irá responder rapidamente, de uma forma abreviada e correcta. Relativamente á minha recuperação foi a mesma coisa, porque sabia que tinha afirmações vindas de alguém profissional e que tinha todos os conhecimentos para trabalhar com pessoas deste tipo.
Na minha altura, o RN era composto por um conjunto de 9 pessoas, que diariamente tinham 7h de “aulas”, em que estavam repartidas por secções de 1h.15m, e em cada secção é dada uma “disciplina”, como: Relações Interpessoais, Rehacom, Treino Cognitivo, Orientação, Reunião Individual, Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Hidroterapia. Nestas primeiras, cinco “disciplinas” trabalhamos os nossos comportamentos a nível psicológico através de jogos de computador, aprendemos estratégias de como termos maior rendimento naquilo que fazemos, em conjunto abordamos determinados temas que nos fizeram puxar pela memória e saber a opinião que os outros tinham acerca da nossa forma de pensar, reuniões individuais com as psicólogas de modo a puxar por nós para criarmos soluções adequadas para os nossos problemas. Nas restantes três, trabalhamos a nossa agilidade física em vários aspectos.Por breves momentos achei que depois de terminado o RN estava preparado para entrar no mercado de trabalho. Ainda andei a procurar, mas já tinha pré-definido que sem formação, no estado em que estava e também sem dominar uma área em específico, não teria grande sorte.
Neste momento estou no CRPG, a frequentar um curso de CAD (Desenho Assistido por Computador), que está a ser muito bom no aumento das minhas habilitações e para o meu futuro profissional. Alem de estar numa área que sinto ter oportunidades e que vai aumentar muito a minha maneabilidade (ainda sou lento), tenho contacto diário com os psicólogos que me acompanharam no RN e que me podem ajudar na resolução de determinados problemas que me aparecem. Relativamente a isto, considero que só o facto de estarmos rodeados por pessoas normais, por pessoas que sofreram de problemas semelhantes a estes, que conseguiram superar e que estão hoje a trabalhar é muito bom porque dá-nos outro alento e dá-nos uma força enorme para continuarmos.
Como já me disseram “a vida é uma sequência de problemas”, já que resolvi um bem complicado, não vou perder a esperança em chegar a outros picos. Já pensei em ir a um casting dos Morangos com Açúcar, para testar as minhas capacidades e demonstrar que o querer vale muito! Apesar de saber que tenho uma série de problemas em consequência da minha juventude, não me vou automaticamente excluir, pois essa novela aborda temas e problemas dessa mesma idade.
Acredito que se continuar com este desempenho, a maioria dos meus problemas actuais irão ser ultrapassados e até quase esquecidos, e devo isso a todos: os do CRPG, á minha família, a todos os meus verdadeiros amigos e a todos aqueles que me ajudaram…
Obrigado.

3 comentários:

  1. Olá João Miguel!

    Tua história de vida chega a todos os corações. Li teu relato e, não posso deixar de expôr o meu sentimento. O que te aconteceu, chamemos azar ou destino, mas seja o que fôr, tens uma enorme força interior que transparece nas tuas palavras. Nunca deixes de sonhar, de orientar a vida presente, para veres a luz, que te iluminará com todas as forças do teu Ser.
    Sorri sempre como vejo nas tuas fotos, concerteza vais conseguir superar todos os problemas que te irão surgir, e alcançarás todos os outros patamares da vida.

    Um Bem Haja,
    Lumenamena

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  2. Tudo está na nossa mente, basta acreditar no teu potencial para conseguir ir além.

    horoscopo do dia

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